quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Relato de amamentação de gêmeos - Mari Perestrelo Campagnoli

Amamentar é natural, mas não é um caminho fácil, como quase toda mãe sabe. Precisamos nos informar, aprender, doar, entender, lutar. Quem lê o blog sabe que esse é um assunto que eu não consigo parar de falar e nem acho que deveria, quanto mais a gente falar sobre ele, mais uma nova cultura de amamentação vai se inserindo dentro das famílias modernas. 

A amamentação de gêmeos, então, é um caminho ainda mais árduo, mas que vale muito a pena. Precisamos de muito apoio e informação, e precisamos, em especial,  saber que é possível. Lembro muito bem quando eu tive as meninas ouvi vários comentários do tipo "mas como ela vai conseguir?" ou "é impossível não complementar com gêmeos". Eu amamentei as meninas até os 8 meses, mas sinto que poderia ter feito muito mais se tivesse empoderada. Para tentar disseminar essa amamentação exclusiva é possível, aí vai um lindo relato feito pela Mariana Perestrelo Campagnoli, mãe da Carolina e da Clara, que primeiro lutou por um parto natural gemelar e depois venceu os desafios da amamentação em dose dupla. Inspirem-se:


Mari e suas meninas. Foto: Renata Penna



"Devo começar contando que fui uma bebê bem mamoma rs. Minha mãe e irmãos contam que eu mamava o tempo todo! Sem nunca usar mamadeira ou chupetas, mamei até três anos e pouco! Cresci ouvindo que, não importava onde estivéssemos, se eu quisesse mamar, ia lá e pegava o tetê. Simples assim. Para mim, isso sempre foi o curso natural das coisas.
Dito isso, cresci, casei e engravidei - de gêmeas!
A vida tem dessas surpresas...
E eu, que a vida inteira dizia que nunca daria mamadeira ou chupeta para meus futuros filhos, me vi num túnel sem luz no final. A amamentação de um bebê já não é incentivada, imaginem vocês de dois!

Durante os nove meses de espera, conheci outras mães gemelares que tinham conseguido amamentar exclusivamente e prolongadamente, e fui vendo que, mesmo sendo difícil, seria possível.
Linha dura que sou, decretei: Na minha casa não entra leite artificial, mamadeira ou chupeta.
E confiei, né?! Porque até elas nascerem tudo que eu podia fazer era me informar e confiar.
Ouvi de tudo nesse período: que seria muito difícil, que as mulheres de hoje não produzem leite bom como no passado (???), que mataria minhas filhas de fome por um capricho.Cheguei a ganhar um limpador de mamadeiras não identificado no meu chá de bebê (obrigada, serviu para limpar os potes onde eu armazenava o MEU leite), e também um pote de guardar leite em pó.

Enfim as meninas nasceram, num lindo parto normal, vieram imediatamente para o meu colo, e mamaram na primeira hora de vida! Para evitar alguns protocolos do hospital, levamos uma ótima pediatra já para a sala de parto, o que nos livrou do leite artificial e/ou água glicosada no berçário (procedimento padrão em grande parte das maternidades que insistem em separar os bebês saudáveis de suas mães).

Chegamos em casa e o medo de não dar conta chegou junto com o turbilhão de emoções do puerpério. As dores da adaptação à amamentação e a exaustão por não dormir por mais de 1:30h seguidas me fizeram chorar de desespero.
Mais uma vez, conversar com quem já tinha vivido essa experiência me tranquilizou!
Além disso, chamei uma consultora de amamentação pra vir em casa, foi o melhor investimento que fiz na vida!!! A Fabiola, além de saber tudo de aleitamento, sabe tudo sobre puerpério, e, não fossem as palavras dela, eu teria sucumbido. Com ela aprendi sobre a pega correta, posições para amamentar as duas bebês simultaneamente e, o principal: aprendi a deixar fluir e confiar em mim e nas minhas meninas. Nosso corpo é perfeito, foi feito pra isso, e saberia muito bem dar conta da missão!

Os dias foram passando, meu corpo foi se adaptando a não dormir mais como antes, e eu aceitei que esse período é muito breve comparado com toda vida que temos pela frente, e certamente vai passar mais rápido do que eu imagino que vá - e provavelmente sentirei a maior saudade de ter as duas plugadinhas em mim.
Quando as meninas estavam com dois meses e alguns dias, comecei a me sentir muito mal. Nesse período estava me preparando para ordenhar leite e deixar de reserva para um casamento em que seria madrinha, então precisava garantir que caso elas quisessem mamar durante a cerimônia ou sessão de fotos, alguém oferecesse o meu leite. Queria tanto garantir que estimulei demais e ganhei uma mastite. Cuidei, e a dor no seio passou, mas continuava me sentindo mal. O diagnóstico? Dengue. E, indo contra as recomendações médicas, segui amamentando em livre demanda, sem oferecer nenhum outro leite pra elas. Mais um perrengue superado!

Pouco antes dos quatro meses, foi hora de voltar ao trabalho. Comecei a preparar o estoque de LM uns 20 dias antes de voltar, e nesse período enquanto não estava amamentando, estava com a bomba dupla acoplada nos seios. Com a prática chegava a ordenhar 350ml em menos de 10 minutos! (foram muuuitos dias pra chegar nesse marco, sempre com a bomba dupla). Voltei, e elas tomavam o LM no copinho, colher ou copo de bico rígido. Passamos alguns dias nessa louca rotina, até que optei por sair do trabalho e cuidar integralmente delas.

Chegamos aos seis meses de amamentação exclusiva! Enfim começaríamos a introdução de alimentos, e eu pensava que elas passariam a mamar menos. Engano meu!
Carolina e Clara só queriam saber de tetê!
Foram três, quase quatro, longos meses para que elas, de fato, aceitassem outros alimentos. E a partir de então passaram a comer super bem, e continuaram também mamando muito bem!
Agora já são 20 meses de amamentação gemelar, e elas nunca tomaram outro leite que não fosse o meu. Comem muito bem, alimentos saudáveis e nada de industrializados, e crescem e se desenvolvem num ritmo alucinante.

O que mais tenho escutado recentemente é: "mas até quando elas vão mamar?"
Querem saber minha resposta?
Do fundo do meu coração, não sei!
Espero, claro, que seja até quando elas não queiram mais. Vai ser até quando estiver bom para nós três. Quando, juntas, eu e elas, decidirmos que não queremos mais.

Essa relação é só nossa, e tenho pra mim que deu (e segue dando) certo, porque nunca permitimos que outras pessoas tivessem poder de nos influenciar. É o laço de amor mais forte e valioso da minha vida, e até a última gota de leite, seguirei cuidando com todo amor do mundo"


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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Montpellier para sonhar mais

Ficou faltando um post muito importante sobre a viagem que a gente fez pra França esse ano. Dá pra acreditar que já foi em maio? Fico imaginando como a viagem já seria diferente com as crianças agora e acho que adiei tanto esse post porque a saudade sempre aperta quando lembro dos dias que passamos em Montpellier. Não só dos lugares que a gente visitou, mas dos amigos que vimos e abraçamos.  Então, senta que lá vem história e meus olhos já estão cheios de lágrimas aqui antes mesmo de escrevé-la.

Quando as meninas tinham poucos meses, eu recebi um email que me chamou a atenção. Naquela época minha vida estava uma loucura e eu ainda estava me adaptando à maternidade e mal tinha tempo de escrever ou ler e-mails, mas aquele chamou minha atenção. Ali estava uma brasileira, que vivia no sul da França, mãe de uma menina, grávida de gêmeos que se identificou comigo e queria conversar mesmo há milhares de quilômetros de distância. Engatamos em uma conversa virtual boa, de troca de e-mails gigantes, os bebês dela nasceram e eu chorei de emoção ao receber a notícia, as minhas filhas iam crescendo e eu contava pra ela sobre toda aquela transformação. Nos identificamos muito uma com a outra. Depois passamos a nos seguir no instagram e eu via a fotos deles todos os dias. Durante quase três anos, vi a Cecíle, a Alice e o Artur crescer. Os aniversários, os primeiros passos, as viagens, os passeios, as refeições. Meu sentimento era quase de que fôssemos vizinhas. Ela muito sabia da minha vida, eu da dela. A internet não é muito louca nesse aspecto?

Pois bem, quando decidimos ir pra Paris, mais do que naturalmente, Montpellier, onde a Lili mora, estava nos nossos planos. Antes mesmo de viajar a gente já vinha conversando e sonhando com o nosso encontro, aliás. E ela, junto com o Phil (que é francês), conseguiu nos ajudar a programar toda nossa viagem e roteiro de longe. E antes de irmos começamos a fazer uns videochats com as crianças, que já se conheciam por foto. Passagens compradas e nos falávamos quase que diariamente na expectativa. É claro que eu tive um pouco de medo de ficar na casa de alguém que eu não conhecia, mas na verdade eu já conhecia, meu sentimento era muito mais de felicidade do que receio.
Nós fomos primeiro para Paris (os posts sobre a viagem aqui, aqui e acolá) e de lá iríamos pra Montpellier ficar na casa da Lili. No dia da viagem pra lá, perdemos o voo pra Montpellier, que foi bem chato porque não era reembolsável, e quase não fomos pra lá, mas no final conseguimos comprar a passagem e despachar as malas em cima da hora. Quando estávamos passando na segurança ficamos um tempão na revista, um dos seguranças queria tirar uma espada de brinquedo da Maria e ela chorou horrores, o Marco esqueceu que íamos viajar e foi de bota e cinto e tudo mais que apitasse naquele negócio. E de lá saímos correndo pelo corredor com o Marco descalço e pelo menos duas de três crianças chorando e a aeromoça gritando em francês “senhor, seus sapatos, seus sapatos”. Quando chegamos em Montpellier, o Phil foi buscar a gente no aeroporto e depois fomos pra casa deles. O encontro foi bom demais! As crianças se deram bem de cara e foi lindo. Nós também entramos em sintonia muito rápido. Foi uma sensação de felicidade de encontrar uma família tão parecida com a nossa com ideias tão parecidas. Me emociono só de pensar nisso e penso em quanta coisa boa o blog já me deu, e não estou falando de coisas não, pessoas que agora fazem parte da minha vida, amizades sinceras, oportunidade de conhecer o outro, que eu com certeza não teria se não fosse por aqui.

Foi uma experiência maravilhosa! Seis crianças juntas foi divertidíssimo. Eles brincavam muito, todos tomavam banho juntos, comiam juntos e depois de colocar todos pra dormir, a gente jantava  e conversava muito. Nos primeiros dias, as crianças da Lili foram para a escola e fizemos alguns passeios só com ela. E no fim de semana, todos acompanharam. Sair com os seis foi definitivamente uma aventura. Demorávamos ainda mais tempo para sair e para ir de um lugar pro outro. Alugamos um carro lá que facilitou muito, mas teve um dia que fomos todos para o centro da cidade de metrô e foi uma loucura. Mas aquela loucura que justamente eu e a Lili amamos.

15 minutos depois da nossa chegada

No quinta dos Teisson

No centro de Montpellier

Piquenique nas rendondezas depois de um passeio de bike

Na cidade mediaval de Aigues-Mortes

Em Pont du Gard, uma das dez maravilhas da França

Artur, Alice e Maria no Arco de Montpellier



Jantar das crianças

Jantar dos adultos (foto tirada pela Cecíle)

Pula-pula todo dia

Almoço na cidade


Nós e nossa trupe

O mediterrâneo

Escalada 




Bella


Saindo de excursão





Na hora de ir embora, fomos de coração apertado, mas com a certeza de que aquele era apenas o início. Imaginei muitas férias compartilhadas com os nossos amigos, as crianças crescendo juntas, mesmo distante. Na hora da despedida, abracei a Lili e não consegui conter as lágrimas e ela também, foi uma sensação de tristeza mesmo por perder aquela convivência tão bom,  de conexão por ter outra pessoa no mundo que sabe exatamente o que a gente passa. 

Até a próxima, Lili, Phil, Cécile, Alice e Tutu
Obrigada por tudo

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Sobre ensinar, aprender e entender

Como pais, acredito que aprendemos constantemente a lidar não só com as frustrações deles, mas com as nossas também, diariamente. Seja quando eles caem num embate daquele de moder, bater e/ou puxar o cabelo, e nós que queremos ensinar que não pode brigar, nem gritar daquele jeito com o outro acabamos acometidos por uma raiva daquela situação, acabamos gritando também e tendo que respirar umas dez vezes para conversar e ensinar, administrar os conflitos. Desapegar de tantos conceitos pré-concebidos, idéias e regras é muito difícil, um exercício diário que tentamos fazer por aqui.





Hoje saímos para andar de bicicleta com as meninas até a biblioteca. Cada uma com a sua, Francisco no carrinho. A Maria andando super bem. A Bella ainda não conseguia fazer a volta completa no pedal, vai até metade, volta e vai até metade de novo. Uma coisa natural e que a Maria fazia também até um dia ver alguém andando de bicicleta e fez. Mas hoje a Bella foi ficando pra atrás e a Maria voando na frente. Então, a gente tentou ajudar ela a fazer, e percebemos que ela estava se frustando ão consegui fazer e a gente também porque não conseguia passar aquilo pra ela. Até que, no auge dos seus 3 anos e 10 meses, ela diz: 

- "Mamãe, eu quero fazer do meu jeito".

Eu e o Marco nos entreolhamos e sorrimos. Aquela frase veio do nada, mas não era surpresa pra gente já que tentamos passar justamente isso pra ela: autonomia. Uma coisa que a escola dela também prega, não existe jeito certo ou errado, existe o seu jeito. O jeito dela. Eu percebi que uma parte bem forte de mim também queria continuar a ensinar ele a fazer a volta completa, queria insistir. E foi assim no longo caminho até a biblioteca. A tal da meia volta cansou  logo, ainda tentei explicar pra ela como fazia mais uma vez, ela fazia a meia volta e me perguntava: "mamãe, eu tô fazendo?". "Não, Bella, ainda não". Até que ela desistiu da bicicleta. Eu e Marco fomos quase num embate entre essa nossa mania de querer que as crianças façam o "certo" e deixar ela ser, vez ou outra escapava um "tenta de novo?" e até um "você não quer mais a bicicleta?". Mesmo tendo consciência de tudo aquilo, não forçar foi difícil. Ainda na ida ela desistiu da bicicleta. E o Marco teve que carregar ela nas costas, e no meio a Bella queria só a mão dele, reclamou várias vezes que estava cansada. Mas tentamos respeitar o momento, acima de tudo. O tempo dela, o jeito dela. Precisamos perceber também, que nossos filhos são únicos e diferentes (algo que a gente sempre soube aqui mesmo tendo duas "iguais", mas que a vida vive nos mostrando). Como pais, podemos guiar o caminho, mas não comandar a direção. Aprendemos todos os dias a nos desapegar e viver de outros jeitos também.