quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Menos rótulos, mais descobertas

Os rótulos, ah, os rótulos. Todo mundo sabe que ele não é legal e não faz bem, mas quando a gente menos espera, sem perceber até, ele aparece. “Ah, o João é agitado demais”. “A Ana é impossível”. “Ele é tímido”. “Ele não para quieto”. Colocamos tantos adjetivos nos nossos filhos diariamente que muitas vezes eles se tornam rótulos, características tão fortes que mesmo que elas não façam parte da criança, acabam se unindo a ela. É claro que traços de personalidades existem e são super importantes, mas se nós que já passamos por tantas experiências na vida também mudamos, por que os menores não?

Uma das vantagens de ter gêmeos, pra mim pelo menos, foi não se apegar aos rótulos porque rapidamente a gente aprende que as fases existem, incluindo de personalidade, e com elas as características que parecem tão pessoais, vem e vão. Não preciso ir tão fundo para perceber isso. Por exemplo, quando as meninas eram recém-nascidas todo mundo tentava diferenciar e descobri o jeito de cada uma. “A Maria é mais dorminhoca. Essa vai ser tranquila, hein?” “A Bella chora alto, né? Essa vai dar trabalho, viu?”. Por que essa nossa necessidade de rotular e definir alguém tão cedo? Acho que estamos tão acostumados a esse processo que parece até natural. Depois fui percebendo que existiam fases, em que a Maria dormia mais fácil e outras a Bella, assim como o choro variava também. E era só isso.




Elas foram crescendo e essas fases foram se tornando mais marcantes e são até hoje. Há alguns meses atrás, Maria estava mais briguenta e ciumenta, no melhor modo “rebelde” (olha o rótulo!). Do nada, como sempre acontecem com as fases, ela acalmou e ficou dengosa, extremamente carinhosa. E aí foi a vez da Bella começar as brigas. Normal. Assim como eu sei que às vezes uma está mais sociável que a outra, mais aventureira, mais questionadora ou mais calma. Tinha uma coisa que me irritava extremamente quando elas eram bebês e eu saia na rua com as duas e alguém perguntava: “qual é a mais simpática?”. “Ah, eu acho que é essa aqui ó”. Como se uma tivesse que ser simpática e a outra não. O Francisco, por outro lado, ganhou o rótulo de “bebê simpático” e tudo bem. Eu tento não levar isso a ferro e fogo. Sei que faz parte da personalidade dele, mas nem sempre ele é todo sorrisos e tudo bem também.

Acho que como mães temos que tomar muito cuidado não só com esses rótulos, mas com as profecias auto-realizadoras de achar que tal situação com seu filho “não vai dar certo nunca” ou já prever o futuro “tenho certeza que como adolescente ele vai ser terrível”.


Precisamos ser mais gentis com nossos filhos e com tudo o que eles estão descobrindo e aprendendo a ser no início deste longo caminho. Precisamos ser menos duras com nós mesmas para não projetar demais neles. E, por fim, precisamos deixar a vida acontecer, sem definições, e deixar eles nos mostrar a direção do próximo capítulo.