quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Diferentes e iguais

Outro dia (leia-se há muito tempo atrás) eu li que as nossas primeiras lembranças da infância definem quais posições vamos tomar para o resto da vida, inclusive se você ia ter tendências depressivas se suas recordações primárias não fossem boas. E tinha lá um especialista que dizia: " faça o teste, pense na sua primeira lembrança da infância". Então, eu fechei os olhos e lembrei. A minha primeira lembrança da infância veio com um filme e ela estava lá. Linda, morena, cabelos ondulados e pronta para me guiar, como deveria ser o papel dela na minha história.

maeeuethiago
Eu, Mami e Thiago

Eu devia ter uns quatro anos, estudava no maternal em um colégio super tradicional de Botafogo, no Rio. Eu lembro que a professora estava montando a peça de teatro do fim do ano e eu, é claro, queria o papel principal, eu queria ser a Branca de Neve. Mas, eis que escuto: "Tati, você vai ser a bruxa, tá meu amor?". Nãooooooooo. Eu não queria ser a bruxa, quem quer ser a bruxa, gente? Ninguém, querida professora! Eu lembro que protestei, mas participei do ensaio e aí já era.

No fim da aula, contei pra minha mãe, super arrasada, acho que chorei, perguntei por que eu não podia ser a Branca de Neve, etc. E está aí a frase que eu acho que mudou minha vida: "Você vai ser a bruxa? Não tem problema, você vai ser a melhor bruxa do mundo. Eu vou fazer um chapéu maravilhoso pra você e você vai aparecer mais que a Branca de Neve, não se preocupa não, Tatiana. Você vai arrasar". Eu acho que continuei triste. Mas me lembro da minha roupa de bruxa, lembro da minha mãe fazendo aquele chapéu, lembro de todo mundo elogiando aquele chapéu, e me senti bem de bruxa, fiquei feliz quando terminou a peça. Está aí a minha primeira lembrança da infância, uma das melhores lições que a minha mãe poderia ter me dado: você pode ser diferente, você pode fazer do seu jeito, você pode se destacar mesmo estando em segundo plano. Ninguém precisa ser protagonista, basta dar seu melhor, fazer diferente, que tudo dá certo no final.

A minha infância toda foi marcada pelas invenções da minha mãe. Desenhar, cortar, colorir, montar, costurar, ela fazia de tudo. Nossos trabalhos de escola eram todos feitos em casa, cheio de ideias milaborante, numa época em que não existia internet para copiar a ideia de algum lugar legal e tudo no esquema "DIY ou faça você mesmo", antes mesmo desse termo existir por aí. Eu tenho nas minhas melhores memórias da infância os projetos feitos pela Dona Vera. Ela sempre estava ali quando a gente saía e voltava da escola, sempre com um ateliê improvisado, uma boa ideia, podia reclamar do trabalho, mas fazia. Ela despertou em mim e no meu irmão a vontade de seguir outros caminhos, ser diferente, ser criativo, ainda que ela não estivesse fazendo aquilo deliberadamente. Ela simplesmente educava instintivamente.

eufestajunina
Eu no melhor estilo "minha mãe me arrumou"

thieeunocolegio Reparem que a roupa é a mesma da foto anterior, mas ela deu uma "repaginada" com lacinhos"

forro
Ela fez todos esses cículos de "ABC" pra minha sala inteira!!!

Por isso, apesar de Maria e Isabella serem idênticas geneticamente, deixo que elas sejam diferentes, como elas de fato são. Pra começar, não visto as duas iguais não só para preservar a individualidade, mas para que as outras pessoas diferenciem uma da outra, mesmo que seja só pela roupa. Eu gosto de ser diferente, seguir o caminho alternativo, sair do lugar comum e minha mãe me ensinou isso, sem ter intenção, e pretendo passar adiante a mesma sabedoria.

Eu quero ensinar para as minhas filhas, assim como a minha mãe fez comigo, que é possível ver a situação por outro ângulo, que com esforço e um pouco de criatividade a personagem má pode ser um pouco mais boazinha, e que dá pra enxergar o lado bom até das bruxas. Tudo o que eu quero é ser a mãe que a minha mãe foi pra mim e tudo o que eu mais desejo no mundo é que ela seja feliz. Só isso.

Este post é uma homenagem para uma das razões do meu viver, já que amanhã é aniversário dela. Parabéns, Mãe!

PS: Obrigada a todas pelos comentários do post anterior, bom saber que não estou nessa sozinha. E foi bom me lembrar que seguir o caminho diferente é desafiante, mas sempre mais compensador. Aguardem mais palpites e jeito de viver da família moderna.

5 comentários:

  1. Geeeeente, a primeira foto nao eh tua mãaae, é tuuu!!! xD

    q legaaa!!


    " Ninguém precisa ser protagonista, basta dar seu melhor, fazer diferente, que tudo dá certo no final."

    amei essa frase e vo colocar de bom dia no face ta hahahaha

    vo colocar créditos ;)


    e estamos aguardando mais posts!! :DDDDDDDD

    beijos triplos ;P

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  2. Parebéns Dona Vera, chorei ao ler o post, coisa linda!!
    Com certeza ela te influenciou Tati, dá pra perceber em cada detalhe, em cada palavrinha que você diz.
    E como vocês são parecidas fisicamente, são gêmeas de épocas diferentes, heuehueheuheu...
    Beijos na família inteirinha!!!

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  3. Que post lindo, nada mais maravilhoso do que uma mãe amorosa. Na foto que sua mãe tá com um bebê no colo ela tá a sua cara. Vocês são muito parecidas.

    beijocas

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  4. Genteeee! Suas filhas são idênticas a vc, quando criança!
    Fiquei boba!rs!
    Lindas!

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